sexta-feira, 1 de junho de 2012

Um texto de Costa Brites, a respeito da arte de Armando Martinez



Armando Martinez, a "pedra-mãe" e a alegria sem fim da viagem


O artista que escolhe a pedra como meio favorito de trabalho tem de ter, além da cultura e da sensibilidade respectivas, algo de mais enérgico ou mais antigo que o sólido saber necessário a todas as disciplinas da criação artística.
A escultura de Armando Martinez reflecte a experiência viva de contactos com a ampla diversidade do material lítico e atesta o sentido de ofício que liga qualquer escultor de pedra à crepitação de antiguidade e aos metamorfismos da formação das rochas. Ouvi-lo contar histórias de fósseis e blocos de pedra descobertos, mencionando o seu nome e a sua abundância, situa-nos algures entre o cenário imenso e mitológico das montanhas e o labor industrioso e poeirento das pedreiras donde saiu a matéria de que são feitas as catedrais.


Sem espaço para poder trazer-vos aqui um estudo sistemático de toda a sua obra, espalhada ao longo duma activa carreira internacional, iria referir principalmente o predomínio dum sensualismo sólido e fundamental, em sínteses regidas pela moderação e pela economia de meios.

A pedra esculpida permanece, apesar de esculpida, como forma simbolicamente compacta à flor da qual se desenvolvem configurações humanizadas, geralmente surpreendidas no gesto protector do abraço, no esforço titânico da maternidade ou no apelo fundamental da paixão.

É acentuada a modernidade sintética de formas opulentas, de cunho por vezes megalítico, apenas reduzidas no seu impacto por serem concebidas desta feita como trabalhos de reduzidas dimensões e mais fácil apresentação.
Noutro tipo de esculturas a forma alonga-se na perpendicular, atingindo o esquematismo totémico dum grito agudo de pedra, onde as mesmas sugestões de referência sensual e afectiva podem surgir, umas vezes de forma quase explícita, outras vezes mais francamente abstractizadas.
Em elevado número de obras é posta em evidência a variedade expressiva do material, que chega a incluir espécies rochosas muito raras, sendo habitual o contraste simultâneo de zonas lascadas e outras polidas.

Artista que viaja intensamente, mantém acesa a chama dum sentido de convivência que tem produzido frutos no estreitamento de laços entre Portugal e a Galiza.
Presente em largo número de obras públicas no seu país natal e em diversos outros, da Itália à Escócia, tem também um largo número de obras em jardins e praças portuguesas, numa clara demonstração da sua energia comunicativa, em tudo compaginável com o génio irrequieto do povo Galego, que connosco partilha a irrequietude insatisfeita de trota-mundos, fura-vidas descobridores e empreendedores de torna-viagem.

Costa Brites 
Publicado Diário de Coimbra 3 de Dezembro de 2002
 por altura de uma exposição de Armando Martinez na Casa Municipal da Cultura em Coimbra





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